O australiano que entendeu o reino

 

“Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno”(2 Co 4.18)

Dias atrás, em um expediente normal, ao realizar uma pesquisa acerca de alguns temas jurídicos envolvendo o direito do trabalho, me deparei com uma notícia que me causou espanto e estranheza, me direcionando a pesquisar mais a fundo o noticiado.

Logo em sua manchete a reportagem dizia: “Australiano vende empresa e dá US$5.000,00 para cada funcionário”. A notícia apresentava que um empresário australiano chamado Ken Grenda, do ramo de transportes, após ter vendido sua empresa, decidiu recompensar seus cerca de 1800 funcionários pela lealdade e fidelidade demonstrada há anos em sua empresa.

Tal notícia teve grande repercussão em todas as agências de notícias da Austrália, causando grande impacto a todos, sendo que o bondoso homem recebera os apelidos de “o melhor chefe de toda a Austrália” e também “o mais generoso chefe da Austrália”.

Mas o que há de tão relevante e interessante em tal caso? O que afinal de contas tem haver tal atitude desse empresário com o reino de Deus? Pois bem. Não é de hoje que nos inserimos em uma sociedade puramente capitalista e consumista, que prioriza o ganho, o lucro, a vitória e o individualismo. Que até mesmo as relações entre as pessoas possuem uma barreira intransponível, denominada virtualidade.

Em momentos de grande abalo de princípios e não universalidade de costumes, que variam conforme os interesses individualistas e mais espúrios, não medem consequências de atos e decisões tomadas hoje, não dão mais valor à história deixada após a morte. Passasse-se então, a transfigurar a morte para uma figura negativa, em que todos buscam a maior distância possível, sem ao menos cogitar que esta pode significar o começo da verdadeira vida, quer para nós mesmos ou para outros, visto que o mecanismo mais importante para a renovação de todo o universo humano é justamente a morte.

Antigamente, a morte tinha o sentido apenas de uma passagem para uma nova vida, pela qual valeria mais a pena lutar. Uma vida não transitória, mas eterna. Uma vida em que nada seria passageiro. Uma vida completa em todos os sentidos. Mas nossa dura realidade é esta: o homem hoje não se preocupa mais com o legado que deixará ou se irá conquistar algo depois da morte. Ele se contenta em apenas viver essa vida, ajuntando coisas vãs que são tão transitórias neste mundo e perdendo a oportunidade de apreciar e construir o que é eterno.

É inegável que o empresário australiano citado entendeu o verdadeiro valor das coisas. Compreendeu o verdadeiro sentido da vida e os atributos mais importantes do reino de Deus ao agir com GENEROSIDADE. Sem nenhum tipo de repressão doou o que possuía com muita GRATIDÃO a todos os que fizeram parte de sua história e contribuíram para escrever a mesma. Teve BONDADE para com pessoas menos favorecidas. Foi JUSTO ao distribuir parte da empresa em que os trabalhadores lutaram para manter. Fez tudo com COMPAIXÃO, doou a todos, mesmo aos que, talvez, não tenham sido os melhores. Foi LEAL aos seus companheiros até o fim. De tudo o que construíram juntos, esse homem sintetiza muito bem qual é a lógica divina do reino de Deus, que necessita ser realidade em nossas vidas.

É claro e latente que esse homem não se preocupava em ajuntar tesouros neste mundo. É nítido que esse homem se preocupou mais com a história e o legado que deixaria depois de sua morte ao mudar o mundo de muitos desses empregados.

Sinto dizer que me senti muito envergonhado ao saber de tal notícia, visto que quantas vezes já pudemos presenciar alguém ou alguns de nós mesmos agindo dessa forma, de acordo com o reino de Deus ao invés de ajuntar tesouros terrenos nessa vida passageira, olhando somente para as coisas dessa terra, esquecendo-nos de olhar para o autor e consumador de nossa Fé, visando conquistar não o que é do reino dos homens, mas sim o que é do Reino de Deus.

Talvez possamos aprender alguma coisa com essa lição de vida e de morte, para que talvez deixemos de prezar pelo luxo, construindo templos cada vez mais assombrosos, utilizando dos meios de comunicação para promover a discórdia e o entretenimento barato e vazio. Fazendo festas sem motivos verdadeiros para alegria, fingindo que está tudo muito bem, falando somente aquilo que todos querem ouvir, distorcendo verdades, falsificando a Palavra de Deus com ações cada vez menos sinceras e mais individualistas. Preocupando somente se há lucro ou não, vendendo falsas promessas e expectativas fadadas ao fracasso, extorquindo pessoas humildes e sinceras, investindo em coisas tolas que se vão com o tempo em vez de fazer com que mais e mais pessoas se tornem participantes do reino de Deus, dividindo o que temos recebido por graça, a fim de que a verdadeira vida possa ser alcançada quando tudo aqui se acabar.

Contudo, prefiro acreditar que ainda há esperança de que mais homens como este citado no início do texto surjam e façam do reino de Deus uma realidade.

 

Por: Gabriel Horta