Entrevista com Craig Blomberg - considerado uma das autoridades mais importantes nas biografias de Jesus

 

Craig Blomberg é considerado uma das autoridades mais importantes nas biografias de Jesus, os quatro evangelhos. Ele é professor sênior de Novo Testamento no Denver Seminary em Littleton, Colorado. Obteve o seu bacharelato no Augustana College em Rock Island, Illinois.  Fez o seu mestrado na Trinity Evangelical Divinity School em Deerfield, Illinois, e o seu doutorado na University of Aberdeen, Escócia.

É autor de doze livros e co-autor ou co-editor de oito livros. Entre os livros, três tratam da confiabilidade histórica e interpretação dos evangelhos (um especializado em João), dois falam acerca da interpretação e pregação de parábolas, três são comentários (Mateus, 1 Coríntios e Tiago), dois são livros texto (um sobre Jesus e os evangelhos e outro de Atos até Apocalipse), dois falam acerca das possessões materiais na Bíblia e um é de exegese do Novo Testamento.

Publicou dezenas de artigos em periódicos e capítulos de livro.Nos domingos à noite, ele faz parte de uma equipe para alcançar os jovens adultos “excluídos” da região urbana de Denver. Possui duas filhas: Elizabeth e Rachel. Durante o verão, ele gosta de viajar com sua esposa e filhas. Frequentemente ele aproveita as férias para servir pessoas em outros países.

Craig Blomberg, um homem intelectual, mas também humano, fala de forma exclusiva para Origem e Destino acerca de diversos assuntos relacionados ao Novo Testamento.

Em qual período o Novo Testamento foi escrito?

Nós não sabemos as datas exatas em que todos os livros foram escritos, mas há a concordância, mesmo que não unânime, que o período durante o qual o Novo Testamento foi escrito é entre aproximadamente 50 a 100 A.D.

Quem escreveu o Novo Testamento?

Se aceitarmos as afirmações encontradas nos documentos do próprio Novo Testamento, juntamente com as primeiras evidências externas dos escritores cristãos do segundo e terceiro século, os autores são Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago, Pedro e Judas. Mateus, João e Pedro estavam entre os doze seguidores mais próximos de Jesus que vieram a ser chamados de apóstolos. Marcos foi um companheiro de ministério de Pedro e Paulo. Lucas era um médico que acompanhou Paulo em algumas de suas viagens missionárias. Paulo foi o professor e o missionário cristão mais significativo, com exceção dos doze apóstolos, e um fariseu que se tornou seguidor de Jesus. Tiago e Judas eram meio irmãos de Jesus. Somente a carta de Hebreus tem sido significativamente debatida em termos de autoria, porque as suas cópias mais antigas não fazem nenhuma referência ao seu autor.

Como foi o desenvolvimento do cânon do Novo Testamento?

Já no início do segundo século encontramos escritores cristãos citando um ou mais dos 27 livros que foram canonizados e tratando-os como possuindo autoridade em pé de igualdade com o Antigo Testamento. No meio do século, os cristãos começaram a fazer listas desses livros que consideravam possuidores de autoridade, tanto para combater a heresia que estava se desenvolvendo, denominada de gnosticismo, como para saberem quais os livros pelos quais eles iriam estar dispostos a morrer durante o período de perseguição por parte do governo romano. Até o final do segundo século, houve quase unanimidade em 20 dos 27 livros – todos os evangelhos, o livro de Atos, e todas as cartas de Paulo. Em 363, o bispo de Alexandria, Egito, um homem chamado Atanásio, enviou uma carta pascoal por todo o império afirmando todos os 27 livros, conforme amplamente acordado. Os concílios do final do quarto século nas cidades de Cartago e Hipona, no norte da África, ratificaram formalmente esse entendimento.

É possível confiar nos escritores do Novo Testamento?

É uma boa pergunta e depende do que você quer dizer por “confiar”. Confiar que disseram a verdade sobre questões históricas? Confiar que as suas convicções teológicas eram precisas? Confiar que as tradições acerca de quem eles eram são confiáveis? As respostas para as demais perguntas abaixo irão abordar uma série de assuntos que se enquadram nessa pergunta.

Podemos contar com a preservação do Novo Testamento?

Sim, extraordinariamente. Temos muitas evidências para o fato de que as mudanças que foram introduzidas pelos escribas ao copiarem os manuscritos, geralmente acidentalmente, ocasionalmente intencionalmente, são muito pequenas. As evidências incluem mais de 5700 cópias, em grego, antes da invenção da imprensa, de parte ou de todo o Novo Testamento. O número sobe para mais de 20.000 se são consideradas as traduções para outras línguas antigas. É possível determinarmos usualmente o conteúdo das versões mais antigas comparando-as com versões posteriores. Podemos ver os padrões dos tipos de mudanças que apareceram. As traduções da Bíblia para as línguas modernas normalmente incluem notas de rodapé para as variantes conceituais mais significativas para que os leitores modernos possam ver por si mesmos a insignificância das variantes.
A obra mais comumentemente copiada no mundo antigo mediterrâneo, a qual funcionou como uma espécie de bíblia para muitos gregos pré-cristianismo, foi Homero (a Ilíada e a Odisséia), possuindo apenas cerca de 800 manuscritos. A maioria das obras antigas sobreviveu com menos de dez cópias, frequentemente com intervalos entre o original e a cópia de mais de mil anos. Fragmentos de muitas partes do Novo Testamento têm sido preservados a partir do segundo século, pedaços grandes [do Novo Testamento] a partir do terceiro século e os primeiros Novos Testamentos que sobreviveram ao “assoreamento” ao longo dos séculos vêm do quarto e quinto séculos.

Quais argumentos você pode apresentar para mostrar a confiabilidade do Novo Testamento?

Além das surpreendentes testemunhas textuais que acabamos de discutir, juntamente com as datas e a autoria, emergem as questões do gênero literário – a forma dos Evangelhos e de Atos está muito próxima da forma das mais confiáveis histórias e biografias do mundo antigo, a quantidade de unidade e diversidade que aparece nas perspectivas enunciadas, os detalhes embaraçosos que não são omitidos ou minimizados, as notáveis habilidades das pessoas do mundo antigo para preservar informações precisas de boca em boca, as culturas orais, e as respostas às próximas questões acerca da evidência externa.

Quais são algumas razões para duvidar da inspiração do Novo Testamento e quais são suas respostas a elas?

Inspiração é diferente de confiabilidade. Inspiração, segundo a Bíblia, significa autoria de Deus. Esta não é uma crença que pode ser demonstrada. Ela segue da crença em Deus, a crença de que Jesus era o Filho de Deus enviado dos céus e, portanto, é baseado na autoridade dos seus ensinamentos. Jesus acreditava firmemente que as Escrituras Hebraicas (o Antigo Testamento cristão) foram dadas por Deus, e previu que o Espírito Santo levaria seus seguidores a toda à verdade fazendo-os lembrar do que Ele havia feito e ensinado (João 14.26, 15.26). Quando a Igreja primitiva canonizou o Novo Testamento, ela estava afirmando que somente esses 27 livros refletem a orientação do Espírito Santo. Os pais da Igreja estavam certamente em uma posição muito melhor que a nossa para tomar essas decisões, de tal forma que a rejeição de suas convicções exige alguma evidência surpreendentemente nova que ainda está para surgir.

Quais evidências externas corroboram os textos do Novo Testamento?

Grandes livros de arqueologia apresentam diversas evidências, listando pessoas, geografia, topografia e desenvolvimentos históricos. Aproximadamente doze fontes judaicas, gregas e romanas, não cristãs, referem-se a Jesus e corroboram os principais contornos de Sua vida.

Qual é a sua opinião acerca da descoberta de um fragmento do evangelho de Marcos do primeiro século recentemente anunciada de Daniel Wallace, pesquisador do Novo Testamento?

É muito cedo para falar algo. Afirmações similares já foram feitas antes e foram provadas erradas. Mas, em princípio, não há razão para duvidar de que tal descoberta poderia ter sido feita. A melhor aproximação que se pode ter de cada nova descoberta significante dessa natureza é esperar um ou dois anos e observar a discussão acadêmica se desdobrar e então formar uma opinião, apesar de não ser excitante proceder assim e a mídia preferir aquilo que é novo e sensacional.

Por que existe tanta descrença no Novo Testamento, apesar das evidências internas e externas, enquanto que a mesma descrença praticamente inexiste quando vinculada a outros textos antigos, tais como os de Aristóteles?

Muito mais está em jogo com os textos do Novo Testamento. Se os textos do Novo Testamento forem verdadeiros, então eles fazem afirmações sobre a vida e a obediência de cada ser humano, não apenas para os dias em que foram escritos, mas desde então. Por um lado, as pessoas deveriam investigar os textos com muito mais cuidado. Por outro lado, muitas e muitas pessoas ao longo dos séculos que se tornaram cristãs têm admitido que, embora tenham apresentado diversos tipos de argumento contra a Bíblia, os seus reais motivos envolveram a relutância em abrir mão do controle total de suas próprias vidas e tornarem-se seguidoras de alguém outro (neste caso alguém que alegou ser divino).

Qual é a mensagem central do Novo Testamento?

O já há muito esperado libertador do povo judeu e Salvador do mundo, enviado por Deus para promover o processo de tornar este mundo um lugar melhor, salvando pessoas de seu comportamento destrutivo e auto-destrutivo, purificando-as de todo o mal e preparando-as para uma eternidade de prazer sem fim, na companhia de Deus e todo o Seu povo, era o homem, Jesus de Nazaré. Através de Sua vida, ensinamentos, milagres, morte e ressurreição, Jesus ensinou as pessoas como viverem, Ele pagou a penalidade que as pessoas mereciam pagar pelos seus pecados e tornou possível a sua futura ressurreição corpórea e vida eterna. Deus não garante qualquer facilidade na vida ou uma vida bem-sucedida segundo os padrões do mundo, mas Ele oferece um sentido para a vida, em Cristo, superior ao oferecido por qualquer outra visão de mundo ou ideologia, de tal forma que não há realmente nenhuma razão para não aceitar essa maravilhosa oferta de Deus de uma nova vida, agora e para sempre. O orgulho humano e o desejo de autonomia, tragicamente impedem muitas pessoas de aceitar esse dom gratuito. Para essas pessoas existe o inferno, mas as portas do inferno encontram-se trancadas apenas em seu interior. Como o famoso escritor inglês de uma geração anterior, C.S. Lewis colocou, em última análise, há apenas dois tipos de pessoas no mundo: as que dizem a Deus: “Seja feita a tua vontade”, e aquelas a quem Deus diz: “A sua vontade seja feita”.

Craig, para terminar. Quais são as implicações da confiabilidade histórica do Novo Testamento para a sua vida?

A confiabilidade histórica do Novo Testamento não prova minha fé cristã, uma vez que não se podem provar todos os detalhes dos textos, mas faz com que considere razoável dar o passo de fé (que em última instância é necessário dar) o qual consiste em sair da fé na confiabilidade do texto ao pleno comprometimento cristão.

Fonte: Site origem e destino