Perguntas sem respostas - Não deixe que elas paralisem a sua vida

 

O homo sapiens quer saber tudo (e nos mínimos detalhes). Sua curiosidade é um dos fatores que o conduzem ao progresso. Entretanto, nem todas as perguntas encontram respostas. Certo homem perguntou onde estava na bíblia a criação dos dinossauros. Não tendo achado uma referência clara a este respeito, preferiu concluir que a bíblia é omissa e indigna de crédito. Uma palavra que pode servir como fio da meada neste assunto é: propósito. A bíblia não foi escrita para ser um manual de biologia. Portanto, o fato de não citar nominalmente dinossauros e bactérias não inutiliza as Sagradas Escrituras. O objetivo bíblico é a salvação eterna. Não devemos perdê-la por causa dos nossos questionamentos.

Imagine que você é um passageiro que vai embarcar num avião, mas antes você quer conversar com o piloto para se informar sobre a rota, as condições do tempo, os equipamentos de segurança, o funcionamento da aeronave, a formação de cada tripulante, suas condições físicas, mentais, emocionais etc. Se for assim, o avião vai e você fica.

Que tal pensar então num paciente entrando na sala de cirurgia e querendo mil respostas antes do procedimento? Não há tempo para isso, embora a razão sempre queira saber as razões.

Em ambos os casos, aceitamos todas as condições pela fé. Isso mesmo: pela fé. E vamos em frente. Não é exatamente uma fé cega. Podemos saber, por exemplo, que o piloto é uma pessoa capaz e possui um currículo excelente. Isso basta. Boa viagem.

Alguns questionamentos são válidos, importantes e oportunos, mas precisamos reconhecer onde acabam as respostas e começa a fé. Caso contrário, perguntas infindáveis serão o alimento da dúvida e o veneno contra a espiritualidade.

Muitos personagens bíblicos fizeram perguntas. Alguns obtiveram respostas, outros não. Gideão perguntou:

Se o Senhor é conosco, por que tudo isso nos sobreveio? E onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram”?

Então, o anjo lhe disse: “Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão dos midianitas” (Jz 6.13).

Gideão não obteve resposta, mas sim uma ordem! Então, voltamos ao ponto essencial: Devemos viver por propósitos e não por respostas.

Certa vez, os discípulos encontraram um cego de nascença e perguntaram a Jesus: “Quem pecou para que este homem nascesse cego, ele mesmo ou seus pais”? O Mestre respondeu: “Nem ele nem seus pais, mas isto aconteceu para que se manifestasse a glória de Deus” (João 9).

Perguntamos “por quê”, mas Jesus nos diz “para quê”. Os “por quês” nos fazem olhar para trás; os “para quês” nos empurram para frente. Novamente, o propósito se destaca

Em muitas ocasiões, Jesus não respondeu aos seus questionadores (Mt 21.23-27; Jo 6.25-26; Mt 27.13-14; Mt 11.2-5). Vejamos seu diálogo com os discípulos em At 1.6-7: “Mestre, restaurarás neste tempo o reino a Israel”? Jesus respondeu: “Não vos compete saber os tempos e as épocas que o pai determinou”. Esta resposta, mesmo desagradável, é excelente: “Não vos compete saber”. Em seguida, veio a ordem e o propósito: “Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas , tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At.1.8). As testemunhas de Jesus não têm todas as respostas, mas sim o poder.

Já pensou se todos os enfermos fossem a Jesus (ou aos apóstolos) buscando explicações para o sofrimento? Mas eles iam em busca de algo mais importante: a cura. Jesus cura ainda hoje, mas, mesmo se a cura não vier, existe uma resposta para todas as perguntas: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.9).

Por outro lado, muitas perguntas refletem apenas a nossa ignorância em relação à palavra de Deus. A bíblia está repleta de respostas para os questionamentos humanos, embora existam perguntas muito específicas que requerem respostas diretas que nem sempre encontramos.

Habacuque viveu numa época difícil da história de Israel, quando os ímpios dominavam e destruíam. O profeta questionou aquela situação desfavorável:

Até quando Senhor, clamarei eu, e tu não escutarás? ou gritarei a ti: Violência! e não salvarás? Por que razão me fazes ver a iniquidade e a opressão?” (Hb 1.2-3).

Sobre a minha torre de vigia me colocarei e sobre a fortaleza me apresentarei e vigiarei, para ver o que me dirá, e o que eu responderei no tocante, a minha queixa. Então o Senhor me respondeu e disse: Escreve a visão e torna-se bem legível sobre tábuas, para que a possa ler quem passa correndo” (Hb 2.1-2).

Antes de qualquer explicação, Deus deu uma ordem a Habacuque. Novamente, o propósito divino fica evidente. Na sequência, o Senhor tranquilizou o coração do profeta, dizendo-lhe que, no final, o ímpio não prevaleceria. Entretanto, uma das frases de destaque naquele livro (que repercutiu em Rm 1.17 e Hb 10.38) é a seguinte: “O justo viverá pela fé” (Hb 2.4), ainda que não tenha todas as respostas desejadas.

E Habacuque termina o seu livro com um cântico de louvor, que supera as circunstâncias e os questionamentos:

Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado, todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação” (Hb 3.17-18).

Esta deve ser nossa atitude: fidelidade constante e confiança total, semelhante à criança que descansa nos braços do pai, mesmo sem entendê-lo plenamente. Descanse. Quem sabe a maturidade (ou a eternidade) nos trará respostas que não compreenderíamos agora? Fica a pergunta.

Por: Pr. Anísio Renato de Andrade

Fonte: www.lagoinha.com