Referendo no Egito aprovou nova Constituição, mostram projeções

 

O Egito aprovou a nova Constituição em referendo encerrado no sábado, segundo várias projeções divulgadas neste domingo (23).

A mídia estatal fala em vitória do "sim" à nova Constituição com 63% dos votos.

A Irmandade Muçulmana, grupo do presidente Mohamed Morsi, anunciou a vitória do "sim" no referendo, com um apoio de 71% dos eleitores, segundo seus dados não oficiais. O grupo informou que o 'sim' venceu em 16 das 17 províncias nas quais foi realizada no sábado a segunda fase da consulta.

A única na qual ganhou o "não" foi Menufiya (norte), segundo a Irmandade Muçulmana.

O primeiro turno aconteceu há uma semana em outras dez províncias, entre elas Cairo e Alexandria, e nela ganhou o 'sim' com quase 57% dos votos, sempre segundo os resultados oficiosos.As semanas que antecederam a votação foram de tensão e protestos violentos no país, que tenta consolidar a democracia após a derrubada do ditador Hosni Mubarak no contexto da Primavera Árabe e de um conturbado período de domínio militar.

"O povo egípcio continua a sua marcha para a conclusão da construção de um Estado democrático moderno, após ter virado a página da opressão", festejou em uma declaração o Partido da Liberdade e Justiça (PLJ), o braço político da Irmandade Muçulmana.

As eleições legislativas devem ser realizadas dentro de dois meses após a aprovação da Constituição.

"Nós estendemos as mãos a todos os partidos políticos e todas as forças nacionais para desenhar os contornos do futuro e espero que todos possam começar uma nova página", disse ele em sua conta no Twitter o presidente do PLJ, Saad el-Katatni.

A Frente de Salvação Nacional (FSN), a principal coalizão de oposição, relatou fraudes e contestou o resultado.

O movimento de oposição composto principalmente por grupos liberais e de esquerda considera que o texto da Constituição abre caminho para interpretações rigorosas demais do Islã e oferece poucas garantias para certas liberdades e direitos individuais.

A Frente, que exigia a anulação do referendo, tentou pressionar Morsi com manifestações em massa, antes de lançar uma campanha feroz, mas de última hora, em favor do "não".

A divisão do país em duas zonas de votação foi decidida a fim de lidar com o possível boicote de muitos juízes encarregados de supervisionar a eleição, que estão em conflito com o presidente Morsi, acusado de minar a independência do poder Judiciário e tentar centralizar o poder.

Os resultados não oficiais são baseados em números fornecidos por mesários. A Comissão Eleitoral deverá anunciar os resultados na segunda-feira, de acordo com o jornal próximo ao governo, o "Al-Ahram".

Nos Estados Unidos, a republicana Ileana Ros-Lehtinen, presidente do Comitê dos Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes, caracterizou a votação como "uma derrota para o povo egípcio".

"Nós não podemos comemorar o fato de se trocar um regime autoritário por uma ditadura islâmica", disse ela em um comunicado antes do anúncio dos resultados.

A imprensa egípcia refletiu neste domingo a divisão do país.

"O Egito se dirige para a estabilidade", foi a manchete do jornal governamental "Al-Akhbar", enquanto o independente "Al-Masri Al-Yom" denunciou o que chamou de "violações em massa".

Na véspera da segunda fase do referendo, confrontos irromperam novamente em Alexandria (norte) entre opositores e defensores da Constituição, que resultaram em mais de 60 feridos.

No início de dezembro, oito pessoas morreram e centenas ficaram feridas em confrontos perto do palácio presidencial, no Cairo.

O vice-presidente de Morsi, Mahmoud Mekki, cuja função não é mencionada na nova Constituição, anunciou sua renúncia no sábado, justificando que deixaria o cargo em novembro, mas que foi forçado a adiar devido à crise política.

Sábado à noite, a televisão estatal anunciou e, em seguida, desmentiu a demissão, sem dar qualquer razão, do diretor do Banco Central.

Uma vez ratificada a Constituição, o Senado dominado por islamitas recuperará o poder Legislativo até a eleição de uma nova Assembleia. A antiga, onde os islâmicos também eram maioria, foi dissolvida em junho.

Sábado, Morsi nomeou 90 novos senadores, incluindo oito mulheres e 12 cristãos, para incentivar um 'diálogo nacional', segundo seu porta-voz.

G1