Tempo, propósito e atitude

 

“Eu não tenho tempo”. Quantas vezes já ouvimos ou dissemos esta frase? Trata-se de uma mentira, pois todas as pessoas vivas têm tempo. Afinal, o tempo é elemento intrínseco ao conceito da palavra “vida”. Salomão afirmou que o tempo pertence a todos (Ec 9.11). Quando falamos em recursos, geralmente pensamos em dinheiro, mas o tempo também é um recurso fundamental para qualquer realização. Algumas coisas podem ser feitas sem dinheiro, mas nada pode ser feito sem tempo. O tempo é uma riqueza que muitos só valorizam quando se sentem próximos da morte. Precisamos valorizá-lo com urgência, antes que se acabe (Ec 12.1-7).

Todos se preocupam com os que roubam o dinheiro, mas devemos tomar cuidado também com os ladrões do tempo. Como exemplos, podemos citar a televisão, a Internet, qualquer tipo de diversão e até o sono. Os jogos, por exemplo, podem ser muito eficientes neste sentido, roubando tempo e dinheiro. Não digo que vamos nos abster de todos esses elementos, mas não podemos ser dominados por eles. Quem perde tempo perde a vida. O próprio trabalho pode ser um ladrão do tempo, quando dedicamos a ele os momentos que deveriam ser de Deus ou da família.

O jovem que namora muito cedo pode estar apenas desperdiçando seu tempo, enquanto se submete a riscos desnecessários relacionados ao sexo, às doenças, à gravidez etc. Quem deixa de estudar para namorar pode estar cometendo dois erros simultâneos.

O tempo, como todo recurso precioso, deve ser administrado. Temos um mau exemplo de administração do tempo em Provérbios 6.9: “Um pouco para dormir, um pouco para cochilar, um pouco para cruzar os braços em repouso”. É assim que o preguiçoso divide suas horas.

Bom exemplo de administração temos em Gênesis 1: A obra da criação mostra um bom aproveitamento da semana.

Para administrar bem o tempo, precisamos estabelecer prioridades (Ec 2.3) e, para isso, precisamos ter mente um propósito a ser realizado. Tempo e propósito são inseparáveis. O tempo existe para o propósito (Ap 2.21). Salomão escreveu: “Há um tempo determinado para todo propósito debaixo do céu” (Ec 3.1). Tempo sem propósito é inútil, enquanto o propósito sem tempo torna-se inexequível, mero sonho talvez.

Todos têm tempo, mas muitos o perdem por falta de alvos. Esta reflexão pode ser usada para qualquer objetivo útil e bom, mas nossa principal preocupação deve ser em relação ao propósito de Deus para nós. Podemos descobrir este propósito examinando o desejo do nosso coração (1Tm 3.1), percebendo as necessidades à nossa volta e, principalmente, pelos dons e condições que o Senhor nos deu.

Jesus demonstrou ter clara consciência do propósito de sua vida. Sendo perguntado por Pilatos se era o rei dos judeus, Cristo respondeu: “Para isto eu nasci. Para isto eu vim ao mundo…” (Jo 18.36-37). Sua afirmação não foi entendida, porque falava de um reino espiritual, mas seu propósito era bem definido.

A mesma clareza de objetivo se encontra em Lucas 4.18-19: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor.”

Um dos aspectos da tentação no deserto foi o oferecimento de propósitos alternativos: os reinos do mundo (Mt 4). Nós também enfrentamos tentações desse tipo. Satanás nos oferece o mundo em troca das nossas almas.

Em Atos 6.1-2, os apóstolos demonstraram consciência de propósito quando disseram: “Não convém que deixemos a palavra de Deus para servirmos às mesas”.

O apóstolo Paulo também sabia muito bem o que Deus queria que ele fizesse. Escrevendo aos Coríntios, ele disse: “Porque Deus não me chamou para batizar, mas para evangelizar” (1Co 1.17). Qual seria a dificuldade de batizar os que foram por ele evangelizados? Se houvesse milhares de pessoas para serem batizadas, isto poderia atrasar ou impedir suas viagens missionárias e inviabilizar a fundação de novas igrejas.

Notamos, portanto, que os propósitos alternativos podem até ser corretos e bons, mas precisamos focalizar o principal, o melhor. A história de Marta e Maria ilustra bem esse tipo de escolha (Lc 10).

Precisamos ter propósitos importantes na vida. Não nascemos apenas para comer, beber, dormir, reproduzir, trabalhar e pagar as contas. Se for só isso, ficamos em desvantagem em relação aos animais, pois eles não têm contas a pagar.

Precisamos ter um propósito ou alguns propósitos, mas se eles forem muito numerosos, podemos perdê-los todos, como um malabarista que deixa cair todas as peças.

O propósito é um alvo, como aquela estaca que o lavrador coloca no fim do seu campo, na qual fixa o seu olhar enquanto dirige o arado. Da mesma forma, devemos colocar nossa atenção, nossos recursos e esforços no propósito que temos. Quem desvia o olhar para outros alvos, torna tortuoso o sulco aberto no solo. Por isso, Jesus disse: “Aquele que põe a mão no arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus” (Lc.9.61).

As partidas de futebol podem servir como exemplo da relação entre tempo, propósito e atitude. Tudo no jogo gira em torno do tempo. Ele é um elemento fundamental. Existe também um propósito, que geralmente é a vitória, mas o resultado não será positivo se não houver nos jogadores a atitude correta, envolvendo concentração, dedicação, esforço e determinação. Sem uma boa atitude, o propósito se perde.

As atitudes certas envolvem decisões e ações. Por volta dos 30 anos de idade, Jesus tomou algumas providências importantes e inadiáveis. Ele deixou o trabalho na carpintaria, batizou-se (Mt 3), jejuou 40 dias (Mt 4.2), enfrentou Satanás (Mt 4.1-10), saiu da casa dos pais, mudou de cidade (Mt 4.13), escolheu seus discípulos (Mt 4.18-22) e começou seu ministério (Mt 4.17). Aquelas ações eram necessárias e urgentes para que o seu propósito se realizasse.

A vida de Jesus se divide entre antes e depois dos 30 anos, não por causa da idade em si, mas em função das atitudes que ele tomou. Depois disso, suas realizações foram numerosas e maravilhosas.

Os discípulos de Cristo também precisaram tomar algumas atitudes diante do chamado que receberam. Em Mateus 4 temos o exemplo de Tiago e João, que deixaram o barco, as redes e o próprio pai, para seguirem o Mestre. Alguns propósitos exigem renúncia.

Chega um momento nas nossas vidas em que também precisamos tomar algumas atitudes, talvez até radicais, mas sempre na direção de um bom propósito que seja coerente com a palavra de Deus. Tais providências são necessárias, embora possam também ser difíceis para nós e desagradáveis para outras pessoas.

O solteiro que vive namorando precisa tomar uma atitude rumo ao casamento, ou então parar de namorar. Quem tem um chamado ministerial, deve assumir o ministério. Não podemos adiar para sempre as decisões que precisamos tomar. Também não podemos nos precipitar, fazendo as coisas antes do tempo. Que Deus nos dê sabedoria para saber a hora certa. Quando o fruto amadurece deve ser colhido, não antes nem muito depois.

Muitas pessoas têm planos e objetivos guardados e dizem: “Um dia, eu ainda farei isto ou aquilo”. Pode ser o plano de ler a bíblia, fazer um jejum significativo, batizar, pedir perdão a alguém e buscar uma reconciliação. Temos a tendência de fazer rapidamente o que deveríamos esperar, enquanto adiamos o que já devia ter sido feito (Hb 12.4-5).

O trabalho do agricultor é um excelente exemplo envolvendo tempo, propósito e atitude. Combinando bem estes elementos, e tendo a bênção de Deus, o resultado será uma colheita abundante. Fazendo o mesmo, nossa vida será repleta de bons frutos.

Que os nossos resultados não sejam apenas materiais e egoístas, pois de nada adiantará chegarmos diante de Deus dizendo: “Senhor, eu fui o melhor profissional da minha área”; “Senhor, eu tive um carro zero”; “Eu conseguir adquirir a casa própria”.

Desejamos tantas coisas na vida e queremos que Deus nos ajude a alcançá-las, mas o que ele espera de nós são, antes de tudo, frutos espirituais, principalmente as demonstrações concretas de amor ao próximo, auxílio aos necessitados e a pregação do evangelho. Aproveitando bem o tempo, com bons propósito e atitudes corretas, seremos abundantes na produção de tudo aquilo que agrada a Deus e engrandece o seu nome.

Por: Pr. Anísio Renato de Andrade