Mortos para Kim, vivos para Cristo!

 

Imagine-se sendo acusado injustamente de traição, lançado numa prisão por 15 ou 20 anos sem ter um julgamento justo. Ou ser impedido de professar a sua fé abertamente, de ir à igreja aos domingos, de pregar o evangelho, de ler a Palavra, de cantar músicas e louvores a Deus. Imagine toda a sua família (cristã ou não) sendo presa por causa da sua escolha pessoal de seguir a Cristo. Essa é a vida de um cristão norte-coreano.

Meses antes da guerra (1950-1953) que dividiu a península coreana em dois países (Coreia do Sul e Coreia do Norte), a propaganda antiprotestante aumentou significativamente no norte. Todos os tipos de cultos religiosos foram banidos, mas o Cristianismo Protestante sofreu consequências mais drásticas por ser considerado uma religião que ensinava as doutrinas imperialistas dos EUA. Ao final da guerra todas as igrejas foram fechadas, suas terras e propriedades confiscadas e suas lideranças presas e classificadas como espiões norte americanos. Já nos anos 1960, Coreia do Norte e Albânia, eram os únicos países do mundo onde todas as práticas religiosas haviam sido banidas. Algo impensável para um país como a Coreia que, antes da guerra, era considerado a Jerusalém do Oriente pelo grande número de cristãos que havia ali.

"A religião é considerada um ópio que paraliza a ideologia do povo. A religião foi banida desde a 4° convenção do partido comunista em 1958"- refugiado norte- coreano.

"Se você tem alguma religião, você será perseguido e executado. Juche é a única religião que o povo deve seguir" - refugiado norte-coreano.

Mas foi a partir da década de 1970 que a adoração ao "Presidente Eterno" Kim II Sung se tornou uma máxima na Coreia do Norte e, consequentemente, a única religião do país. Kim II elaborou um sistema filosófico (Juche) baseado no Marxismo - Leninista de culto à sua personalidade e na fidelidade dos indivíduos ao partido comunista e seus ideais. Tal sistema orienta todas as relações sociais dos norte- coreanos até os dias de hoje. Segundo fontes no país uma das primeiras frases que as crianças aprendem quando estão começando a falar é "obrigado pai Kim II Sung". As pessoas são ensinadas na escola que a religião é algo ruim.

"As autoridades impõem a educação ideológica desde a escola primária. É impossível ter liberdade de pensamento ou de ação. Vivemos em uma sociedade completamente organizada pelo aparelho do Estado" - refugiado norte-coreano.

"Ter fé em Deus é considerado um ato de espionagem. Kim II Sung é o deus da Coreia do Norte" - refugiado norte - coreano.

Muitos norte-coreanos nunca ouviram falar sobre Deus, Jesus ou mesmo sobre qualquer religião. A maioria só experimenta algum tipo de liberdade religiosa quando atravessa a fronteira para China ou quando fogem para a Coreia do Sul. De acordo com outro refugiado norte-coreano, "a religião é proíbida  porque pode causar a ruína da deificação de Kim II Sung e consequentemente do controle que o Estado exerce sobre a mente dos cidadãos. No sistema norte-coreano liberdade religiosa não existe. Eu nunca tinha ouvido falar disso (religião) até fugir da Coreia do Norte". Todos que cruzam a fronteira com a China são pegos pelas autoridades ao retornar à Coreia do Norte e passam por interrogatórios cujas principais perguntas são: Qual parte da fronteira você cruzou?O que você fez na China? Você visitou igrejas sino-coreanas? Você teve algum tipo de contato com sul-coreanos na China?

Contatos com sul-coreanos ou mesmo chineses descendentes de coreanos são considerados uma ofensa.

Talvez os cristãos norte-coreanos sejam os únicos do mundo inteiro que vivem em um sistema político totalmente repressivo ao evangelho de Cristo; ainda que a Constituição do país assegure a liberdade religiosa, na prática, isso é inviável e surreal. 

Há muitos relatos de cristãos que sofreram duras consequências por sua escolha de seguir a Cristo na Coreia do Norte e de pessoas que testemunharam a perseguição a cristãos no país.

"Quando eu era do exército, em 1987, passei perto de uma casa em Kangryong, sul da província de Hwanghae. Certo dia a casa havia sido demolida e a família que morava nela sumiu. Eu perguntei às pessoas o que houve. Então me disseram que descobriram que o pai era cristão e que toda a família foi presa e enviada para uma prisão política" - refugiado norte -coreano.

"Na época em que eu servia no exército do povo, militares norte-coreanos demoliram uma casa no distrito de Yonkhang e encontraram uma Bíblia e um notebook com nomes de 25 pessoas classificados como: um pastor, dois assistentes do pastor, dois anciãos e 20 congregados. Todos foram presos! Os 5 líderes foram condenados à morte. Tiveram os pés e mãos amarrados e foram deitados na frente de um rolo compressor, utilizado na construção de estradas para esmagar e nivelar a pista antes de despejar o concreto. Contudo, disseram-lhes: "se vocês abandonarem a religião e servirem somente a Kim II Sung e Kim Jong II, não serão mortos.

Os cinco não disseram uma única palavra e foram esmagados. Os outros 20 cristãos envolvidos foram acusados de ser espiões, de conspiração e atividades subversivas, e enviados para campos de trabalho forçado.

"Uma jovem, com cerca de 20 anos de idade, estava lavando roupas em um afluente do rio Tumen (na fronteira da China com a Coreia do Norte). Ao sacudir as roupas ela deixou cair algo que acreditava-se ser uma Bíblia. Outra mulher que também estava lavando roupas denunciou a jovem à policia mesmo não tendo certeza de que se tratava de uma Bíblia (existe uma máxima, no país, de que qualquer atividade suspeita deve ser denunciada às autoridades). A jovem e seu pai, de cerca de 60 anos de idade, foram presos por 3 meses e interrogados, acusados de tráfico de literatura ilegal e condenados como traidores da nação". 

Os cristãos norte- coreanos estão cercados de todos os lados por uma política que os impede de professar sua fé abertamente e que traz consequências não só para aqueles que praticam a fé evangélica, mas também para seus familiares e entes queridos. Na Coreia do norte nada pode fugir ao controle do Estado, todas as atividades são monitoradas.